Ser tigre  
  O tigre ignora a liberdade do salto
é como se uma mola o compelisse a pular. 

Entre o cio e a cópula 
o tigre não ama. 

Ele busca a fêmea 
como quem procura comida. 

Sem tempo na alma,
é no presente que o tigre existe.

 Nenhuma voz lhe fala da morte. 
O tigre, já velho, dorme e passa. 

Ele é esquivo, 
não há mãos que o tomem. 

Não soa, 
porque não respira. 

É menos que embrião 
abaixo do ovo, infra-sémen. 

Não tem forma,
é quase nada, parece morto. 

Porém existe, 
por isso espera. 

Epopéia, canção de amor, 
epigrama, ode moderna, epitáfio, 
Ele será quando for tempo disso. 

[Arménio Vieira]

 

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